Já todos tivemos aqueles dias de trabalho exaustivos ao ponto de chegarmos a casa e dirigirmo-nos de imediato à cama, sem ter sequer energia para retirar a roupa. Será que este ato inofensivo pode causar problemas para a saúde?
Nos primeiros meses da pandemia de covid-19, em 2020, uma das recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS) foi deixar a roupa e o calçado que utilizou durante o dia na entrada da casa, mudando depois para uma outra indumentária. Mais de dois anos e meio depois, e com a pandemia a manter uma trajetória decrescente há vários meses, será que ainda faz sentido manter este hábito?
A resposta é “depende”. Contactado pela CNN Portugal, o virologista Pedro Simas considera que esta recomendação “já não fazia sentido” durante a pandemia, exceto em algumas profissões que sempre exigiram cuidados com a proteção individual, como é o caso da saúde.
QUESTÃO DE CONFORTO
Num contexto não pandémico, Pedro Simas, que é também investigador do Instituto de Medicina Molecular, explica que a exposição microbiológica durante o dia, no trabalho e nos transportes públicos, não tem qualquer relação com o vestuário ou calçado, pelo que esta é mais uma “questão de conforto” do que propriamente de saúde.
“É uma questão de higiene normal, se as pessoas gostam ou não. No meu caso, quando chego a casa costumo trocar de roupa, mas isso não é por questões de saúde, mas sim por uma questão de conforto”, exemplifica.
A dermatologista Ana Moreira, da Allure Clinic, refere que, de facto, nos primeiros meses da pandemia “não se conhecia exatamente a forma de transmissão do vírus”, pelo que “era sempre preferível ter todos os cuidados”.
Para a médica, no entanto, a investigação em torno da covid-19 acabou por ajudar a descodificar esta questão da transmissão de micróbios no vestuário e calçado: “Hoje em dia, mesmo com o coronavírus, sabemos que as roupas não são uma forma de transmissão eficiente e, portanto, não é mandatório, quer em período desta pandemia, quer em período não pandémico, que troquemos a roupa de forma obstinada”.
Aliás, prossegue a especialista, o contacto com “algumas bactérias e vírus” faz parte da natureza do ser humano, conferindo-lhe mesmo “alguma resistência” aos respetivos vírus e possíveis doenças.